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Casamentos

5 textos de autores portugueses para dedicar este São Valentim

E eis que chegou o dia mais romântico do ano! Se ainda não encontraste as palavras certas para fazer uma dedicatória à tua cara-metade, inspira-te nestes textos de autores portugueses.

Danilo Antonio Photographer

Não importa se têm o anel de noivado, as alianças de casamento ou se oficializaram a vossa relação recentemente... hoje é o vosso dia! Para todos os pombinhos apaixonados, o dia de São Valentim surge como uma oportunidade de celebrar o amor, seja de que forma for. Por isso, independentemente de estarem atarefados com os convites de casamento ou a planear uma escapadinha a Paris, hoje vamos recomendar-vos 5 textos românticos de autores portugueses para celebrar esta data. Inspirem-se! 

1. José Luís Peixoto, "Abraço"

"Quando damos as mãos, somos um barco feito de oceano, a agitar-se sobre as ondas, mas ancorado ao oceano pelo próprio oceano. Pode estar toda a espécie de tempo, o céu pode estar limpo, verão e vozes de crianças, o céu pode segurar nuvens e chumbo, nevoeiro ou madrugada, pode ser de noite, mas, sempre que damos as mãos, transformamo-nos na mesma matéria do mundo. Se preferires uma imagem da terra, somos árvores velhas, os ramos a crescerem muito lentamente, a madeira viva, a seiva. Para as árvores, a terra faz todo o sentido. De certeza que as árvores acreditam que são feitas de terra. 

Por isto e por mais do que isto, tu estás aí e eu, aqui, também estou aí. Existimos no mesmo sítio sem esforço. Aquilo que somos mistura-se. Os nossos corpos só podem ser vistos pelos nossos olhos. Os outros olham para os nossos corpos com a mesma falta de verdade com que os espelhos nos refletem. Tu és aquilo que sei sobre a ternura. Tu és tudo aquilo que sei. Mesmo quando não estavas lá, mesmo quando eu não estava lá, aprendíamos o suficiente para o instante em que nos encontramos. (...) "

Madeira Love Stories Photography

2. Pedro Chagas Freitas, "Queres Casar Comigo Todos os Dias, Bárbara?"

"O amor é bem capaz de ser a melhor maneira de nos encontrarmos connosco. 
Preciso de ti para saber de mim. 
Sei-o sempre que por minutos parece que vou perder-te, numa discussão das que vamos tendo. Discutir é abrir a válvula do amor, deixá-lo respirar, sangrá-lo para poder regressar à estrada. Nenhum amor aguenta sem sangrar. 
Preciso de ti para pensar em mim. 
Sei-o porque quando parece que vais eu vou também, deixo de saber quem sou, como sou. Para onde vou. 
Preciso de ti para precisar de mim. 
E os que não me entendem que vão para o raio que os parta. Os que dizem que isto não é nada recomendável, que isto não devia ser assim, que eu devia ser capaz de ser o que sou sem precisar de ti. Infelizes. 
Preciso de ti para cuidar de mim. 
O amor é bem capaz de ser precisar do outro para cuidarmos de nós. 
E eu cuido-me. Quero estar viva para te poder amar. Conheces melhor motivo do que esse? É claro que amo os meus pais, a minha família toda, os meus gatos, aquilo que a vida me tem dado. Mas se quero estar viva é antes de mais nada porque é a vida que te traz até mim. 
Mudei a vida toda para te dedicar a minha vida. E sou feliz. (...)"

3. Miguel Esteves Cardoso, "Os Dias Contigo"

"Os dias contigo são dias inteiros que passam num instante. Tenho saudades de ti quando acordo, antes de perceber que já estás ali ao meu lado. Tenho saudades de ti de manhã enquanto espero que desças do banho. Fico bem a ler enquanto te espero, mas leio melhor quando estás ao pé de mim, quando já não me apetece ler. 
Hoje foi mais um dia contigo e, mais uma vez, dou comigo aqui à noite, separado de ti, para escrever sobre o dia que se passou. E a coisa principal que aconteceu foi ter saudades de ti outra vez. 
Bem sei que sei onde estás e que eu estou aqui a cinco passos de ti. Mas a maior certeza que tenho é que, apesar disso tudo, não estou contigo nem tu estás comigo. É o que me basta para ter saudades de ti. Não preciso de mais: se mais tivesse, morreria. 
É verdade que estive contigo durante uma pequena parte do dia: aquela a que as pessoas tristes e habituadas chamam vida. Mas estava tão apaixonado e tão feliz que nem dei por isso. 
Pensei apenas: "Conseguimos! Conseguimos estar juntos! Nem acredito!" E o tempo nunca é suficiente para me convencer que conseguimos mesmo estarmos juntos e, ao mesmo tempo, estarmos juntos o tempo suficiente para deixarmos de nos preocuparmos (e sofrermos) com isso. 
Continuo a sofrer, todos os dias, às mesmas horas em que não estou contigo, da saudade de quando estive. Os dias contigo são os bocadinhos de manhã, tarde e noite que são avaramente permitidos aos mais felizes. E apaixonados. E ingratos."

Ulyana Lenina

4. António Lobo Antunes, "Cartas da Guerra"

"Meu amor,
A verdade, a trágica verdade, é que cada vez gosto mais de ti, com aquela mansa fúria de que fala o poeta. Desde que te conheço que não tenho olhos para nenhuma outra mulher, milagre que só tu poderias fazer, tornar realidade e alegria. Regresso sempre a ti como um comboio de corda na sua calha circular. E agora, que tenho estado doente e piegas, a saudade de ti aumentou terrivelmente mais, catastroficamente mais, deixando-me a passear de mãos atrás das costas no teu retrato horas seguidas. Até ao fim do mundo. (...)"

Estúdios 44

5. Joaquim Pessoa, "Ano Comum"

"Por todas as razões e mais uma. Esta é a resposta que costumo dar-te quando me perguntas por que razão te amo. Porque nunca existe apenas uma razão para amar alguém. Porque não pode haver nem há só uma razão para te amar. 
Amo-te porque me fascinas e porque me libertas e porque fazes sentir-me bem. E porque me surpreendes e porque me sufocas e porque enches a minha alma de mar e o meu espírito de sol e o meu corpo de fadiga. E porque me confundes e porque me enfureces e porque me iluminas e porque me deslumbras. 
Amo-te porque quero amar-te e porque tenho necessidade de te amar e porque amar-te é uma aventura. Amo-te porque sim mas também porque não e, quem sabe, porque talvez. E por todas as razões que sei e pelas que não sei e por aquelas que nunca virei a conhecer. E porque te conheço e porque me conheço. E porque te adivinho. Estas são todas as razões. 
Mas há mais uma: porque não pode existir outra como tu."

Estes textos, perfeitos para uma dedicatória romântica - ou até para completar os vossos convites de casamento personalizados - comprovam o quão bela é a nossa língua. Por isso, se querem rechear o vosso dia C de detalhes em português, não deixem de aproveitar as melhores frases dos escritores nacionais!